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Por sua luta contra a dependência química, Fabiola Molulo recebeu de Gandini a Comenda Zilda Arns

Sexta-feira, 27 de Setembro de 2013

Uma vida dedicada ao resgate de outras vidas

Uma vida dedicada ao resgate de outras vidas. Vidas de cidadãos carentes de esperança, sem qualquer perspectiva de futuro, completamente entregues ao terrível vício do crack. Cidadãos que para muitos são invisíveis, que se amontoam debaixo das marquises e já chegaram ao fundo do poço – física, social e espiritualmente. Onde quase todos veem uma causa perdida, onde muitos não enxergam mais esperança, ela vê um desafio a ser aceito e enfrentado com coragem e generosidade.

 
Esta é Fabiola Molulo, que há cerca de um ano coordena o Projeto Cristolândia, voltado à reabilitação de dependentes químicos, no centro de Vitória e visitado recentemente pelo vereador Fabrício Gandini (PPS). Pelo notável trabalho que tem desenvolvido à frente do projeto, Fabiola foi homenageada na sessão solene promovida pela Câmara Municipal de Vitória no dia 12 de setembro, sendo condecorada por Gandini com a Comenda Zilda Arns.
 
Sediado num espaço cedido pelo Sesi, na Av. Jerônimo Monteiro, o Projeto Cristolândia é mantido pela Igreja Batista no Brasil. Em Vitória, o projeto vai completar um ano em outubro, sendo Fabiola a responsável por sua implantação e consolidação. Diretamente ao seu lado trabalha o Pastor Josias, responsável pela parte operacional do projeto, enquanto ela fica encarregada das tarefas administrativas.
 
Acolhimento
 
Hoje, a Cristolândia atende, em média, 80 pessoas por dia, entre internos (pessoas que vêm das ruas para morar nas dependências do projeto) e aquelas que frequentam a sede diariamente, em busca dos serviços ali oferecidos a qualquer cidadão, como corte de cabelo, higiene pessoal e duas refeições gratuitas e abertas à comunidade (café da manhã e almoço). “Todos os dias, às 9h da manhã, também realizamos uma palestra motivacional, para desafiá-los a voltar a sonhar e a deixar as ruas, pois geralmente essas pessoas já perderam a perspectiva de futuro”, conta a missionária.
 

O objetivo maior da equipe é o acolhimento e internação dos usuários, a fim de que eles possam, voluntariamente, passar por todo o processo de desintoxicação e recuperação em todos os aspectos – física, mental, social e espiritual. Muitas pessoas procuram a Cristolândia por sua própria iniciativa, como última esperança de recuperação. Mas a equipe do projeto também realiza um incessante trabalho de abordagem e convencimento dos usuários nas ruas. “Eles têm um carinho muito grande por todo o serviço que nós oferecemos. Realmente percebem uma diferença no acolhimento, na nossa abordagem”, relata Fabiola.

 
Etapas
 

As pessoas que buscam o atendimento diário no projeto também ficam inteiramente livres para se internar, o que, segundo Fabiola, muitas vezes acaba ocorrendo. “A nossa intenção é sempre a de manter um vínculo com a pessoa. A partir do convívio diário, ela acaba conhecendo o trabalho, gostando e decidindo se internar, por livre e espontânea vontade”, relata a coordenadora.

 
Além do espaço oferecido pelo Sesi, a Cristolândia aluga um sítio, no interior de Marataízes. É lá que funciona a segunda etapa do processo de reabilitação dos internos, que seguem para lá após uma temporada vivendo na sede, no Centro de Vitória. “Optamos pelas fases. Quem sai das ruas não tem contato com o pessoal que está mais adiantado. Isso é positivo porque os que estão mais avançados não desistam. E a transição para outro espaço representa uma conquista simbólica, da superação de etapas.”
 
Desafios
 
Hoje a Cristolândia oferece 28 vagas de internação na sede, todas preenchidas, mas o objetivo, conta Fabiola, é ampliar esse número para 30 até o fim do ano. Mas esse é apenas o menos dos desafios a que o projeto se propôs. O projeto cresceu, tem sido cada vez mais procurado e já não dá conta da fila de espera para acolher novos internos. “No sítio em Marataízes, temos hoje 24 vagas. Mas estamos num processo de ampliação para 52 vagas, até novembro.”
 
Outro grande desafio é a criação de um espaço específico para o atendimento de mulheres. “Ainda não temos um espaço próprio para elas. Sempre que uma mulher vem a nós, precisamos encaminhá-la para outras unidades do projeto, no Rio ou em São Paulo.”
Naturalmente, para garantir a sua expansão, a Cristolândia hoje busca novas parcerias, inclusive com o Poder Público – há um processo iniciado com a Prefeitura de Vitória.
 
“O projeto é mantido pelas Igrejas Batistas do Brasil, com uma ou outra parceria eventualmente. Precisamos de apoio para expandir a equipe, principalmente, com a contratação de duas psicólogas, duas cozinheiras, uma assistente social e um motorista. Também precisamos muito de um veículo para ampliar nosso trabalho de abordagem e o recolhimento de doações”, enumera a missionária.

 
Sobre a Comenda Zilda Arns:

“O problema do dependente químico é um problema de todos nós. Se todos os segmentos da sociedade cumprissem a sua parte, poderíamos fazer muito mais. Então hoje a Igreja Batista está entendendo que tem um papel a desempenhar neste processo. Não é fácil. São muitos os problemas que temos de enfrentar. Por outro lado, quando vemos um menino que passou por nosso projeto num processo de mudança, empregado, tocando a vida dele, isso não tem preço. Quando a Câmara de Vitória me dá a honra dessa homenagem, queria compartilhá-la com toda a Igreja Batista, um conjunto de pessoas muito dedicadas a esse desafio da luta contra a dependência química. Se todos entrarmos nessa luta, teremos muito mais vitórias.” (Fabiola Molulo Tavares, gerente regional do Projeto Cristolândia no Espírito Santo)



Autor: Vitor Vogas

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