Notícias

voltar

Esgoto, assoreamento e baixa vazão comprometem sobrevivência do Rio Itapemirim

Quinta-feira, 03 de Outubro de 2019

Frente parlamentar conheceu resultados de expedição, que constatou ainda extração irregular de areia, turbidez da água e falta de cobertura florestal

image

Lançamento de esgoto, assoreamento, extração irregular de areia, água com excesso de nutrientes e turbidez elevada foram problemas apontados por profissionais envolvidos na preservação do Rio Itapemirim, cuja bacia corta 17 municípios dos sul capixaba. Eles participaram nesta quarta-feira (2) da Frente Parlamentar de Fiscalização de Obras e Coleta e Tratamento de Esgoto no Estado.

Para a cientista social e ambientalista Dalva Ringuier, há disparidade entre as “pesquisas de gabinete” e a realidade encontrada durante expedição realizada em junho deste ano que percorreu mais de 700 km do curso d’água em seis dias. A coordenadora da iniciativa revelou que esperava ter encontrado um cenário melhor, pelo menos no que se refere ao saneamento básico.

No entanto, afirmou que não houve avanço. Durante a expedição flagrou esgoto sendo lançado diretamente no rio, inclusive em cidades onde o serviço fica a cargo da Cesan, como Muniz Freire e Castelo. Nos municípios onde existe o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae), disse não haver tratamento de esgoto. No caso de Cachoeiro de Itapemirim (onde uma empresa privada faz o serviço), há 80% de esgoto tratado, pontuou.
Assoreamento

Além disso, a ambientalista chamou atenção para outro problema encontrado na expedição: a falta de cobertura florestal na margem do rio. Segundo ela, medidas para contornar essa situação passam pela prestação de assistência técnica junto aos produtores rurais. Como consequência, apontou o assoreamento e a diminuição da vazão do rio.

Em 15 anos, disse que o rio perdeu de 80 cm a 1 metro de profundidade, inviabilizando parte da expedição, feita de barco. “Nós empurramos barco o tempo inteiro porque não conseguimos navegar”. Os impactos dessa diminuição de vazão, sobretudo nos períodos de estiagem, foram abordados pelo engenheiro agrônomo Bruno de Lima Preto.

Mil pneus

“Essa falta de água pode provocar uma ação em cadeia que vai causar prejuízos econômicos, sociais e ambientais”, projetou. A água do rio é utilizada para abastecimento dos 17 municípios abrangidos pelo manancial no sul do estado. Bruno de Lima Preto, coordenador do curso de engenharia do Instituto Federal (Ifes) de Alegre, também falou sobre o lixo descartado inadequadamente e revelou que um empresário retirou mais de mil pneus em um trecho do rio.

Ele pediu ajuda à frente parlamentar no sentido de utilizar os diagnósticos já feitos sobre o Rio Itapemirim para implementar ações contra os problemas encontrados. “A gente precisa de condições financeiras para dar sequência nesses projetos”, pontuou.

A bióloga e coordenadora do Curso de Ciências Biológicas do Ifes, Karla Maria Pedra de Abreu, destacou alguns avanços alcançados nos últimos 15 anos, como aumento das áreas de preservação ao longo do curso d’água e aumento de instituições de ensino superior com cursos voltados para a área de meio ambiente. “(As instituições) trouxeram para a gente conhecimento sobre a biodiversidade local”.

No entanto, cobrou a criação de políticas públicas, principalmente voltada para a extensão rural, incluindo práticas sustentáveis. “Apesar desses avanços o que se verifica na bacia de forma geral é um alto grau de fragmentação, uma matriz composta de pastagem e da monocultura, especialmente de café e cana. E o que a gente percebeu? Uma necessidade muito grande de extensão rural e assistência técnica”.

Sobre efluentes lançados diretamente no rio, sobretudo em Castelo, o representante da Cesan Eliezer Guarnier explicou que 50% do esgoto da cidade é tratado e que R$ 40 milhões estão previstos para serem investidos em obras para universalizar o sistema no município. Segundo afirmou, a estação de tratamento está em reforma e hoje moradores pagam na fatura o referente à coleta de esgoto, afastamento e manutenção da rede - mas não o tratamento.

O deputado Gandini (Cidadania), presidente da frente parlamentar, disse que o colegiado atuará na articulação no sentido de colocar em prática as ações de recuperação do rio.

“A gente propôs à Seama (Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos) para capitanear um grupo de trabalho para que a gente possa recuperar o Rio Itapemirim”. De acordo com o parlamentar, a proposta será encaminhada formalmente ao governo do Estado. A inciativa teve o aval do subsecretário da Seama, Elber dos Reis Tesch, que participou da reunião.

*Com informações do site Ales/Marcos Bonn

 Fotos: Tati Beling 

Leia mais