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Assessora da Igreja Católica é homenageada por Gandini no mês das mulheres

Terça-feira, 25 de Março de 2014

Assessora da Igreja Católica é homenageada por Gandini no mês das mulheres

Todo jornalista capixaba bem o sabe: a comunicação inteira da Arquidiocese de Vitória – que engloba as 70 dioceses da Igreja Católica no Espírito Santo – passa por essa lusitana que, apaixonada pelo Brasil, adotou o nosso país como pátria e Vitória como lar permanente. Talvez a opção por fixar residência em uma ilha tenha a ver com sua terra natal. Nascida na Ilha da Madeira, Maria da Luz Fernandes vive há 22 anos na insular capital capixaba e, embora o sotaque não minta, adaptou-se tão bem ao nosso estilo de vida que já se considera praticamente “abrasileirada”.
 
Apaixonei-me pelo jeito mais informal dos brasileiros. Na Europa, a educação e o comportamento são rígidos demais. Eu costumava brincar que, se minha mãe me visse caminhando pelas ruas como costumo fazer aqui, de chinelos e bermuda, dificilmente me reconheceria – diverte-se.
 
Mas não foi só por nossa cultura que ela se apaixonou. Quando jovem, integrava uma instituição católica e veio ao Brasil pela primeira vez para completar sua formação, na década de 1980 – auge das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), por meio das quais a Igreja tinha atuação mais voltada para os problemas sociais do povo.
 
A Igreja no Brasil é muito diferente da europeia. Lá, os padres e bispos ficam mais distantes do povo, não por princípio, mas como prática. Aqui há uma inserção social muito maior. É tão diferente que ou você se apaixona ou você quer voltar para casa. Eu fiquei com a primeira opção. Encantei-me pela Igreja no Brasil –  conta ela.
 
Após um breve retorno a Portugal, Maria da Luz agarrou a primeira oportunidade que teve de retornar para o Brasil. Meu corpo estava lá, mas minha mente havia ficado aqui.
 
Quis o acaso que ela viesse justamente para a Ilha Presépio. Com formação em Comunicação e pós-graduação em Marketing, assumiu imediatamente trabalhos ligados à área, em uma editora e uma rádio ligadas à Igreja Católica. O rádio, aliás, é uma paixão que embarcou com ela desde a Ilha da Madeira. Mas foi como assessora de comunicação da Mitra Arquidiocesana que ela se consolidou de vez. Ocupa o cargo há 10 anos, desde que recebeu o convite do atual arcebispo, Dom Luiz Mancilha Vilela, acumulando, ainda, a função de gerente de Comunicação e Marketing.
 
Para além dos requisitos técnicos, ela conta que busca imprimir sua fé e sua espiritualidade no trabalho que realiza. 
Sempre quis exercer a comunicação, mas de uma maneira que me permitisse fazer o bem. E a Igreja me propicia isso.
 
Se, como diz o poeta de além-mar, “navegar é preciso”, Maria da Luz avalia que, hoje, o grande desafio da comunicação da Igreja com os fiéis reside em outro tipo de navegação: Precisamos evoluir na descoberta de como estar presente nas novas plataformas da comunicação.
 
Exatamente com esse objetivo, está em curso, na Mitra, um projeto de integração de todos os veículos de comunicação da Arquidiocese de Vitória, incluindo as redes sociais.
 
Por conta dessa bela história de vida, Maria da Luz Fernandes foi indicada pelo presidente da Câmara de Vitória, Fabrício Gandini (PPS), como uma de suas homenageadas na Sessão Solene em homenagem ao Dia das Mulheres, a ser realizada no plenário da Câmara, na próxima quarta-feira (26), às 19h. Confira, abaixo, a entrevista completa com a homenageada:
 
 

Por a senhora que veio de Portugal para cá?
 

Eu pertencia a uma instituição religiosa, estava num período de formação e vim para aperfeiçoar a minha formação. Fiquei por três anos em São Paulo, já trabalhando na comunicação. A diferença da Igreja no Brasil é muito grande em relação à Europa, aqui ela é muito mais inserida na sociedade. A Igreja na Europa é um pouco mais afastada do povo, não por princípio, mas como prática. Então, aqui, ou você se apaixona pela Igreja ou decide logo ir embora. E eu me encantei. Depois de três anos, retornei a Portugal, fiquei mais dois anos lá. Meu corpo estava em Portugal, mas a mente estava no Brasil. Eu não queria mais ficar lá. Até que surgiu a oportunidade de ser transferida. Pensei que fosse para a África. Mas me disseram que eu poderia voltar para o Brasil. Perguntaram-me se eu queria voltar. Eu disse: “Agora”.
 
 
E por que Vitória?
 

[Risos] Bem, eu sou da Ilha da Madeira, e Vitória é uma ilha. Quando cheguei perto do mar, me senti atraída de novo. Na época que vim para Vitória, era um momento muito bonito da Igreja, com o trabalho das Comunidades Eclesiais de Base. Por coincidência, vim para cá praticamente junto com o Papa João Paulo II, quando ele esteve visitando a cidade. E, assim como o Papa, eu quis ir para São Pedro.
 
 

Como foi a adaptação ao nosso país? Hoje você se considera brasileira?
 
Sou uma coisa só, e minha vida também. Não consigo separar as coisas. Me apaixonei não só pela Igreja, mas pelo jeito de viver dos brasileiros. Vocês são muito diferentes dos europeus. Hoje as coisas estão mudadas por lá, mais globalizadas, mas a rigidez do comportamento e da educação é demasiada. Aqui vocês têm a convivência de classes sociais que se misturam em alguns momentos de maneira impressionante, o que me cativou. Eu costumava brincar que, se minha mãe me visse caminhando pelas ruas como costumo fazer aqui, de chinelos e bermuda, dificilmente me reconheceria.
 
 

A senhora busca preservar os laços com sua terra-natal?
 
Mantenho, é claro, um laço muito forte com Portugal. Mas já não vou com tanta frequência, desde a morte de meus pais. É curioso: hoje meu sotaque já é mais suave, mas aqui as pessoas ainda me perguntam de onde sou. E o mesmo ocorre quando estou lá: já falo de um jeito tão brasileiro que os outros portugueses me perguntam de onde sou [risos].
 
 

Como você avalia a importância do seu trabalho à frente da comunicação da Arquidiocese de Vitória?
 
Mais do que nunca, a comunicação é importante para qualquer instituição. Para a Igreja, nem se fala. Por outro lado, a Igreja, que foi pioneira em termos de comunicação, com as revistas na casa etc., deu uma recuada quando a comunicação explodiu, na década de 1980. Então até hoje há um descompasso, e ainda não conseguimos entrar no ritmo, principalmente quando se trata das novas plataformas, que nos colocam num mundo diferente. A Igreja é muito cuidadosa e às vezes perde o timing das coisas. Estou aqui há 22 anos, e percebo que a grande dificuldade da Igreja na comunicação é que a sua rotina é muito bonita (a preparação para as celebrações, a liturgia), mas essa rotina não é notícia para a imprensa. Então, a Igreja precisa evoluir na descoberta de como estar presente nas novas plataformas da comunicação. Porque ela tem assunto, está sempre se comunicando, mas às vezes não consegue chegar às pessoas. E a igreja precisa repensar como estar nessas mídias, como nós marcamos nossa presença nesses espaços. Por isso, estamos desenvolvendo um projeto de integração dos nossos veículos, nos últimos dois anos, e agora com um impulso maior.
 
 

Você procura colocar a sua fé e sua espiritualidade também no seu trabalho? Ou busca separar as coisas?
 

Meu trabalho na Mitra é uma opção pessoal. Minha tendência para a comunicação surgiu muito cedo, mas eu sempre quis fazer alguma coisa com a comunicação que pudesse ser para o bem. E a Igreja é um espaço que é para o bem. Então, minha fé com certeza está no meu trabalho. A fé e a espiritualidade não são elementos técnicos. Para você trabalhar, tem que ser tecnicamente, mas a espiritualidade e a fé marcam a sua postura onde você está. Não consigo pensar a Mitra desconectada da fé. É meu jeito de viver a fé, trabalhando dessa forma.



Autor: Vitor Vogas

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