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Numa demonstração de força do movimento hip hop, cerca de cem pessoas, principalmente jovens da periferia de Vitória, tiraram a tarde do último sábado (26) para vir e ouvir pessoalmente as palavras de conscientização de um ídolo: o rapper e escritor GOG, que veio pela primeira vez ao Espírito Santo, para participar de uma roda de conversa com o tema “O Hip Hop como instrumento de transformação”. Apoiado pelo vereador Fabrício Gandini, o evento ocorreu no Centro de Referência da Juventude (CRJ), espaço ligado à Prefeitura, na Ilha de Santa Maria.

 

No bate papo, feito de maneira bem informal, foram abordados temas como as políticas públicas voltadas para a juventude, racismo, violência urbana, políticas afirmativas (especialmente as cotas nas universidades), transformação social e o fortalecimento do movimento hip hop.

 

Entre apresentações de graffiti, rap e break dance, os meninos e meninas presentes também puderam direcionar as suas perguntas a GOG, uma referência para todos, não só de sucesso, mas principalmente de conhecimento, dentro do movimento hip hop. Entre eles, havia até alguns jovens que viajaram de moto por cerca de seis horas, da Bahia, só para ver e ouvir ao vivo o rapper e escritor do Distrito Federal.

 

 

Confira abaixo algumas das principais reflexões feitas por GOG no encontro:

 

O racismo é um sistema arraigado hegemônico que perpassa as nossas vidas. O racismo nasce da ignorância. Tentam hierarquizar as cores. Associam uma cor à periculosidade e colocam uma outra como a cor superior, como a solução para os problemas.

 

O gigante não acordou agora. Ele desperta todo dia às 3h da manhã, sai para trabalhar e não almoça com os filhos. Agora, durante as manifestações de ruas, está se falando muito das balas de borracha disparadas contra os manifestantes. Enquanto isso, na periferia, nossos jovens têm sido vitimados por balas letais, e ninguém fala nada.

 

A democracia racial é um mito. Só no estado de São Paulo, 86 pessoas são assassinadas por dia, das quais cerca de 90% são negros. O Estado Democrático de Direito está matando mais em um ano do que o Estado ditatorial matou em 22 anos.

 

Não podemos criminalizar o funk. Também é movimento negro. E temos muito a aprender com eles. Diferentemente do hip hop, eles conseguiram ser autossustentáveis.

 

Sempre defendi que o conhecimento é o 5º elemento do movimento hip hop (além dos quatro elementos consagrados: o rap, o MC, o graffiti e o DJ). É o oxigênio que caminha no sangue da revolução do hip hop. A transformação está nas ONGs, no movimento, mas está principalmente em você, que pode transformar muito a sua própria realidade. Todo mundo tem no sangue a revolução, a transformação. É preciso ação, senão a revolução vai acabar em moda.

 

 

GOG (Genival Oliveira Gonçalves) é um rapper e escritor brasileiro, com 30 anos de carreira, nove discos gravados e um DVD.