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Artigo: "É preciso defender a Política"

Quarta-feira, 26 de Junho de 2013

Artigo: "É preciso defender a Política"

Como negar que, hoje, a sociedade brasileira – sobretudo, a sua parcela mais jovem – sente que há um descolamento entre as suas aspirações legítimas e os seus representantes políticos? A voz vibrante que vem emanando das ruas Brasil afora é eloquente, não deixando a menor dúvida de que os jovens se percebem diante de um “vácuo de representação”. Desde a redemocratização, grande parte dos políticos eleitos por meio de nosso sistema representativo tem frustrado sistematicamente os mesmos anseios populares que foram “escalados” para concretizar. Decepção após decepção, o povo inevitavelmente perdeu a crença na atividade político-partidária e gradualmente afastou-se desta, passando a buscar outras formas de mobilização e participação na vida pública.

Porém, justamente neste momento de tamanha efervescência social, é preciso fazer uma distinção que me parece essencial: os protestos e a indignação coletiva devem ser canalizados para os políticos (aliás, para os maus políticos, preservando-se as louváveis exceções); mas, de modo algum, para a Política. Lugares comuns como o de que “todo político é ruim” e o de que “a política não serve para nada” não passam de generalizações perigosamente equivocadas, que alguns adotam por conveniência como pretexto para ocultar o próprio conformismo e desinteresse político.

Não obstante a atuação reprovável de alguns mandatários, não se pode jamais perder de vista que a Política, para muito além de uma questão de poder, segue sendo o terreno privilegiado para a promoção de transformações positivas na vida social. Por mais desacreditada que ela esteja, é preciso que cada cidadão a pratique cotidianamente e busque aprimorá-la naquilo que está a seu alcance. Até porque, do contrário, estaremos caminhando para o caos e a barbárie anunciados por Thomas Hobbes, numa sociedade sem respeito às regras, em que o individualismo prevaleceria sobre a coletividade. Evidentemente, também compete aos políticos recuperar o protagonismo eticamente qualificado para ajudar a sociedade a “se reencontrar” com a Política institucional. Assim pensa, por exemplo, o sociólogo Marco Aurélio Nogueira, no livro “Em defesa da Política” (2001).

Conforme o autor, defender a Política é defender as próprias condições de sobrevivência da sociedade brasileira. “Se, por um passe de mágica, eliminarmos a Política da nossa existência, não ficaremos apenas livres do Congresso, dos partidos e dos políticos, mas também de tudo o que nos dá condições para interagirmos de maneira organizada. (...) Se essa desqualificação persistir, podemos assistir daqui a alguns anos a uma completa derrocada da classe política. Ela vai se converter em algo que não serve para nada, o que, no limite, pode levar ao suicídio da vida social.”

Ainda que imperfeito (e aqui fica ainda mais claro o quanto urge a tão sonhada reforma político-eleitoral), o nosso sistema de representação a democracia representativa ainda “é a pior forma de governo, salvo todas as demais” (Churchill). Para ajudar a aprimorá-la, é fundamental que os brasileiros façam justamente o que estão fazendo: participem e cobrem mudanças. Em especial os jovens, com seu inerente poder transformador. A democracia representativa e a participativa devem se complementar. A política pode ajudar a formar melhores cidadãos, os quais, por sua vez, podem ajudar a melhorar a política. É o círculo virtuoso de que necessitamos. Ao contrário de pôr em xeque o nosso sistema político, esse vento de mudança que sopra das manifestações pode ter o efeito de renová-lo.


Autor: Fabrício Gandini

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